É como tomar bolinha

Quando pequena, eu era uma peste. Isto mesmo, Na minha época, os adultos chamavam as crianças mais ‘levadas’ de pestes. Subia em árvores; vivia em cima dos muros; fazia guerra de mamonas com os meninos da vizinhança. Ou seja, eu era criança. Mas uma menina que não se comportava como uma menina dos anos 60. Minhas amigas brincavam de boneca – única vez que brinquei com uma Barbie na vida, pendurei-a pelos cabelos para fora da janela que dava pra rua- , bordavam, fingiam ser donas de casa, roubavam os batons das mães. Bem, pelo menos as mais corajosas 🙂

Por estas e tantas outras, a Dona Marina, mãe exemplar de minha melhor amiga vaticinou : “A cabeça da Betise deve ser que nem tomar bolinha”. Hmmmm Nunca tomei bolinha de qualquer tipo – juro!! E, para falar a verdade, as únicas bolinhas que eu conhecia bem eram as de gude, com as quais me deleitava ao derrotar os babacas com a incauta ousadia de me desafiar pra um joguinho.

Dito isto, é obvio que eu notava como eu era diferente das outras meninas. Uma empregada minha me deu três apelidos. O único relevante à esta história aqui é ‘Louca do Jardim”. Dispensa explicações. Também não ajudava o fato de minhas 4 irmãs serem estudiosas, caprichosas e arrumadinhas em seus vestidos e cabelos com laço de fita.

Bom, mas toda esta historinha é para falar um pouco do fotógrafo britânico Tim Walker cuja exposição “Wonderful Things” no V&A faz jus à descrição da D Marina. A cabeça dele é definitivamente que nem tomar bolinha. Ele mesmo explica:

"A câmera é um estado de espírito. Você quer fotografar o que está vendo, mas a única maneira de fazer isso é crer completamente, absolutamente e com absoluta paixão.você está MUITO ansioso por poder mostrar o que viu e, de alguma maneira, isso se torna realidade. e a foto que você acaba tirando se torna uma lembrança trazida de volta do devaneio."

Agora podem ver por vocês mesmos.

E para terminar: adorei a ideia de colocar a foto atrás da tela

Entre as 800 mil fotos do acervo do museu está a do Bayeux Tapestry, medindo 65metros . Fascinado por este tapete, Walker evoca a beleza e o caos em uma sessão de fotos onde todo o material é reciclado ou feito a mão. “A indústria da moda é muito esbanjadora”.

O tapete
E a obra de Walker

7 Replies to “É como tomar bolinha”

  1. como sempre um ótimo assunto… Maravilhosas fotos das fotos. Quanto a tomar bolinha, explico para as novas gerações que a palavra se referia a qualquer comprimido psicoativo ( como as anfetaminas), aquilo que os caminhoneiros tomavam para ficar mais acordados ( y otras cositas más). A propósito , conheci a a articulista nos anos sessenta. Não há o menor exagero no relato.

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  2. Pois é. tentaram me ‘convencer’ que eu estava esquecida e que você tinha sido minha professora. Quase conseguiram. Ando esquecendo ‘muitas coisas ‘. O brigada por confirmar. De qualquer forma, ainda tem tempo. Quem sabe nos encontramos a próxima ve que eu for ao Brasil (Abril)

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