Inspirada na história de Peter Farquhar e Benjamin Field, ou melhor no choque que me causou, na perplexidade em que fiquei e na saudade que me deu da maravilhosa professora de português, Marinete Veloso, sentei e escrevi esta crônica. Mudei nome, sexo, nacionalidade e me baseei em depoimentos de ex-alunos e amigos de Peter Farquhar

Carminha era uma daquelas professoras de quem os alunos tem saudades. Inspiradora. Ela amava a língua portuguesa e a literatura de uma maneira geral, mas, particularmente, a brasileira. Lia de tudo com o mesmo entusiasmo e interesse: romances, novelas, autobiografias, depoimentos históricos, poemas. Em suas aulas, passava longo tempo discutindo linha por linha de uma poesia, procurando significados ocultos. E a classe inteira se envolvia. Imaginava as emoções do poeta, palpitava com o ardor dos sentimentos, se emocionava com a sensibilidade perfeita na escolha das palavras. E, assim, Carminha incutia em cada aluno a mesma paixão pela literatura.
Pelos corredores do colégio, era parada constantemente por observações afetivas e sorrisos largos de alunos ora entusiasmados, ora agradecidos. E sempre fascinados com esta capacidade da Professora Carminha de … como poderiam explicar? De……….não parecer uma professora. De provocar uma antecipação deliciosa ‘a sua próxima aula, uma vontade louca de se inteirar do programa de estudos só para poder deixá-la feliz. E ver aquele sorriso exultante iluminando a classe.
E, entre seus colegas de trabalho, não era diferente. Sua candura no tratar as pessoas era inigualável e seu entusiasmo pelo ensino, contagiante. “Como é que ela conseguia tantos elogios de pais e alunos?” se perguntavam. Muitos dos pais – hoje escritores, jornalistas, publicitários, dramaturgos e professores- tinham sido alunos da Carminha. Escolheram o colégio quase que só por causa dela. Era amiga de muitos ex-alunos.

Emocionalmente, porém, era uma mulher solitária. Homossexual e profundamente religiosa, Carminha acreditava haver um conflito nisto. Vivia uma vida celibatária e era atormentada por isto. Foi quando decidiu alugar um quarto de sua casa ‘a jovem Marina. Altamente inteligente e articulada, a moça do interior do Estado compartilhava com Carminha o mesmo fascínio pela palavra escrita.. Apesar das 4 décadas que as separavam, era fácil entender a energia que as atraíam.
Carminha acreditava ter encontrado, aos 69 anos, uma mulher que a amava. Marina a transformou. Eram inseparáveis. Passavam horas em livrarias, conversando sobre as últimas publicações, debatendo as razões para a premiação deste livro e não daquele. Em seu diário, no dia em que se casaram, Carminha anotou: “ Nunca fui tão feliz na minha vida. Lá se foi o medo de morrer sozinha”.
““Cruel, calculista, manipuladora, enganadora. Marina tinha um profundo fascínio em controlar, humilhar e matar”, relatou o principal investigador ‘a imprensa presente na corte quando Marina foi condenada pelo assassinato de Carminha. A intoxicação amorosa transformou em envenenamento por drogas e álcool. E, no final, asfixiamento.
Uau, lembrei-me de Nelson Rodrigues. Este abismo rápido com que se fecha a crônica, estonteante.
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Contundente o desfecho!
Fiquei procurando onde foi que eu havia pulado o texto!
Nelson Rodrigues!
Congrats!
Ana Eliza
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Na verdade, eu parei porque não era para ser uma elaboração total da história. E também pra que o choque do que a jovem fez ser comparado ao choque do crime. Fico muito feliz que você tenha lido.
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Contundente o desfecho!
Fiquei procurando onde foi que eu havia pulado o texto!
Nelson Rodrigues!
Congrats!
Ana Eliza
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Adorei Betise. Completo! Bjs
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Que bom que você leu. E melhor ainda que gostou! É o primeiro passo. O blog foi o início do processo de voltar a escrever. E me apaixonar de novo. Esta crônica é o primeiro passo para escrever short stories. Obrigada mesmo por ler. fico feliz. bj
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Betise, sensacional! Leitura fácil com gostinho de quero mais… agora que começou, não pare mais! Adorei! Bjs
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Que bom! Obrigada. Também fiquei muito satisfeita com esta primeira tentativa. Quero mais também. beijo
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Obrigada a todos. Continuar escrevendo. Sempre
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Muito boa a crônica, Leitura fácil que vai carregando o leitor para, ao final, se deparar com um desfecho inesperado. Ansiosa para as próximas!
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Que bom que gostou. Escrever este conto e os encorajamentos de todos me deram mais motivação parta continuar. Obrigada
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Betise,
Muito bom!!!! E que final inesperado!!!
Continue escrevendo, pois gosto muito da maneira que se expressa!
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Obrigada. Vou continuar, sim!
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Excelente texto!! Pena que não tenha sido minha aluna como seus irmãos! Parabéns! Escreva mais, gostei muito.
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Betise, a Aparecida Mason foi uma Grande Mestra em análise de textos literários. Um elogio dela me deixa muito feliz por você e bastante enciumado – nada grave, o prazer de falar para as duas é muito maior. Também fiquei muito bem impressionado com a descrição fenomenológica da psicologia das duas personagens com tão poucas palavras. Talento, sensibilidade e concisão.
Adorei!
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Otávio, muito obrigada. E o texto da Betise merece mesmo. Você me conhece, sabe que é verdadeiro!!!
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Que honra! Muito obrigada. Espero ter o prazer de conhecê-la pessoalmente. Grande abraço e continue analisando. Serei sempre grata a sugestões, recomendações, palpites….
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E eu fico emocionada com estes comentários. Também gostei bastante do texto. Ainda mais por ter sido o primeiro. E o personagem da professora era tão interessante que me animei descrevendo.
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Ainda dá tempo de ser aluna? Vou ao Brasil umas 3 vezes por ano. Adoraria te encontrar.
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Você não precisa ser mais minha aluna, Betise, está pronta!! Avise quando vier ao Brasil, será muito bom conhece-la. O Luiz sabe como me encontrar! Continue a escrever… Você é muito boa!
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Uau! Adorei! Ficou sucinto, com tamanho bom de ler e por isso bem dinâmico. Cada parágrafo é intenso, cheio de amor mas preparando para a inversão da história, um corte de tirar o fôlego. Paixão louca?
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Pois é, a mateira me deixou abestalhada. Me agoniei com o tormento que o professor passou. Ai, para mudar, criei uma professora, lembrei dei uma que tive, fui me colocando no lugar dela, …. Gostei bastante. Jáctenho outras ideias. Estou adorando.
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Leitura super agradável e intrigante. Parabéns Betise! Aguardo as proximas ..
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Obrigada. Seja muito bem vinda.
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Adorei. Sou da área de exatas, por isso não sei analisar uma escrita. Mas fui lendo querendo chegar no final. Bj
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RAmei.Muito boa. Continue escrevendo ctônicas.
E deve fazer um livro depois
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